Artigo nº 008 - chamamento à participação cidadã

Carta à professora X sobre a Greve 2023 que se inicia


Prezada Professora:
Minha vida sempre foi pautada pela luta coletiva. Mas, infelizmente, as lutas coletivas, devido ao avanço das concepções pós-modernas e neoliberais, têm sido desmembradas em lutas menores (de pequenos grupos ou identitárias) ou em lutas individuais (cada um por si), esta última bem à moda do darwinismo social (de Spencer). Logo, essas lutas, muitas delas válidas em suas particularidades, terminam por não estabelecer o diálogo crítico e combativo necessário para que dialeticamente possam se unir numa síntese.

Então, note: o que estou tentando fazer aqui é mexer com o brio da categoria que, anda sim (como você mesma reconhece) prejudicada “pelos desgovernos que temos”. A luta principal sem dúvida é contra eles (argumento que aprecio em sua fala), mas, não considero justo que a luta não seja também “entre nós”. Por um motivo muito simples: Se eles são os detentores do poder isso se deve exatamente ao seu grande poder de persuasão e divulgação de suas concepções ideologizadas – que os tornam capazes de promover convencimento e obter hegemonia. Logo, se isso é verdade, isso significa que a fala deles também está em nós e nossas ações também estão induzidas pelos objetivos de nossos inimigos de classe. E precisam ser combatidas em nós (e me coloco aqui neste exame de autoconsciência) e entre nós (luta política).

E é compreensível que numa batalha (como esta que ora enfrentamos) busquemos romper com a acomodação que a ação cotidiana do inimigo (seu exercício de poder) vem produzindo em nós e entre nós. Esse despertar de consciência não se dá sem alguma dor (como um parto normal), assim como a saída do imobilismo tem um custo energético difícil de mensurar individualmente, mas que pode ser compensatório se a união for grande ao ponto de trazer como resultado uma ou mais vitórias coletivas.

Criticar, denunciar, mexer com os brios e com a consciência dos companheiros de IERP (os quais muito admiro, praticamente sem exceção), é uma necessidade política compatível com a necessidade expressada pelo momento que este paro reivindicativo exige. Romper com o medo, com a alienação ou com a condição de escravos em que estamos submetidos (veja que me incluo aqui) é imprescindível num momento tão urgente quanto este. Esta greve é decisiva! O medo de perder uma GLP (aqui e agora) está fazendo com que muitos não vejam as perdas econômicas futuras e bem próximas advindas da perda de um Plano de Cargos e Salários (que é o conteúdo que se expressa na indigna e imoral proposta do atual governador), este sim, soberbo e carrasco – para utilizar aqui as suas palavras.

Penso que é possível sonharmos, projetarmos e agirmos coletivamente e, na medida em que nos exercitemos na política, possamos estabelecer um convívio verdadeiramente democrático, convívio este baseado em princípios éticos e numa discussão franca e honesta, crítica e justa. Só assim, trabalhando e pensando juntos, seremos capazes de evoluir individualmente sem ter com isto de atropelarmo-nos uns aos outros. Creio, como dizia Marx, que é possível “uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um seja a condição para o livre desenvolvimento de todos”.

Se pareci soberbo aos seus olhos (ou de qualquer outro componente deste grupo), peço desculpas! Pois aqui está apenas um modesto companheiro que gostaria de ver o IERP restaurar, mesmo que incompletamente, seu glorioso passado de lutas por uma educação melhor, e em união fraterna dar seu contributo para a construção de um movimento de classe que melhore nossas condições salariais, de trabalho e sobretudo de vida. Só assim a estudantada terá acesso a uma educação edificante de sua condição humana.

Deixo aqui o meu mais afetuoso abraço com sinceros desejos de que todos os que não se decidiram pela adesão ao movimento grevista possam refletir nos próximos dias ou horas e, com companheirismo e união, construirmos a luta por esta causa que eu sei que todos (ou praticamente quase todos) consideram justa e responsável!

Avante companheiras e companheiros rumo à vitória!

Fraternalmente,

Renato Fialho Jr.