Artigo nº 007 - crônica social

festas coevas ltda. (2)

Numa dessas festivas ocasiões, sai à cata do apresentador de música pop - o dito disk-jockey ou DJ - para solicitar-lhe gentilmente que tocasse uma música. Demorei a encontrar o aquário, todo em vidro-fumê, num canto desprezível do ambiente poluído e esfumaçado com gelo seco mal-cheiroso. Porta entreaberta, adentrei o ambiente e lancei no ar a frase, antes mesmo que o “alemão” terminasse a retirada de seu fone de ouvido: “Boa noite, cidadão! É possível tocar um samba?” A resposta veio a cavalo e foi taxativa: “Não, não posso!”. Perguntei-lhe então o motivo do impedimento, já que não havia me antecipado aos zagueiros. Foi quando advogou: “aqui nós SÓ tocamos o que toca na mídia”. E eu, decidido a imprensá-lo em sua própria toca, disparei: “quer dizer que você não trabalha com mídia?”. E ele mandou essa (e convicto!): “Não. Não sou mídia!”. Não por ingenuidade, mas para chamá-lo à responsabilidade, deixei meu protesto antes de “tirar o time”.
Vale a pena tentar entender esse troço! Os que contratam essas festas, assim como os assinantes de tevê a cabo, pagam por aquilo que aliena e atrofia a mente e a dignidade dos que estão na sala de estar ou no salão de festas. Transferimos a eles, o nosso dinheiro, o nosso poder e a nossa participação.
Como se vê, é-duca “fazer o social” em tempos coevos! Somos “penetras” na marra, “nós, os milhões de palhaços”, como um dia escreveu Gonzaguinha. Fazem-nos de verdadeiras mercadorias vivas, a produzir e consumir tudo em ambiente confinado. Coisificar a todos, criar guetos de absoluta prosperidade buguesa, extrair a nossa humanidade com o nosso envolvimento e a preços vis. Uma espécie de presente grego para os troianos pagarem, onde o convidado é a matéria-prima e o contratante a vítima de tão altaneiro lucro.
É “duca”!

Renato Fialho Jr. (JAN/2010)