Artigo nº 004 - chamamento à participação cidadã

Você decide! O que você prefere: o Governo Dilma ou o 'Golpe Suave' das elites?


13/03/16 - Um golpe contra o governo de Dilma Rousseff está a se desenvolver no Brasil. Neste dia 13 de março, daqui a poucas horas, se darão uma série de marchas pedindo o impeachment ou a renúncia de Dilma, a prisão de Lula (mesmo sem ter nada provado contra eles) e o 'Fora PT'.
O país vem sendo atravessado desde o fim das eleições de 2014 pelo desrespeito político: a direita, representada por Aécio Neves não aceitou a decisão que o povo tomou nas urnas e vem fazendo de tudo para minar o processo democrático que a mantém afastada por 12 anos do poder central, renovados por mais 4 (quero dizer que a direita se encontra afastada diretamente do poder executivo federal desde que FHC saiu).
Frente à ameaça golpista, articulada sobretudo pela mídia (ou PIG – Partido da Imprensa Golpista) em conluio com setores do judiciário, vem-me logo à cabeça: estaríamos diante de uma tragédia ou de uma farsa? Karl Marx nos mostrou que a ‘história só se repete enquanto farsa’. Diria que a novidade (a tragédia) não está propriamente no golpe (nosso velho e indesejado conhecido) nem na concepção atualmente adotada (já aplicada em vários outros países mundo afora), mas sim na sua aplicação aqui no Brasil.
Vou explicar melhor: É uma meia verdade afirmar que estamos diante de uma nova fórmula de Golpe de Estado. A forma que está a ser desenvolvida foi formulada pelo sociólogo estadunidense Gene Sharp e foge daquele golpe militar tradicional, estilo bonapartista. Embora inédita no Brasil (e nesse sentido é tragédia), tal fórmula já vem sendo bastante utilizada mundo afora (e nesse sentido é farsa).
Gene Sharp chamou esta forma de golpe de ‘Golpe Brando’ ou ‘Golpe Suave’. Outro nome dado a tal evento golpista é o de ‘Revolução colorida’ ou ‘Revolução de Color’: que é quando os golpistas, agentes da ‘mudança de governo’, usam uma determinada cor como símbolo das manifestações e do movimento, cor que aparece nas faixas, camisas e fitas. Vejam exemplos de ‘Revolução Colorida’ já ocorridas:

  1. ‘Revolução Rosa’ de 2003 na Geórgia;
  2. ‘Revolução Laranja’ de 2004 na Ucrânia;
  3. ‘Revolução Amarela’ de 2005 no Quirquistão;
  4. ‘Revolução Verde’ de 2009 no Irã (fracassada);

Outro exemplo de aplicação recente da técnica de ‘golpe suave’ é a chamada ‘Revolução Islâmica’ ou ‘Primavera Árabe’, que ocorreram entre 2011 e 2012 na Tunísia, no Egito, na Líbia, no Iêmen, no Marrocos, em Bahrein e na Síria. Neste último país, a suavidade inicial logo se perdeu, transformando-se numa guerra civil total que perdura até a data de hoje (a guerra civil é algo também previsto por Sharp, que é contrário às negociações como forma de superar crises políticas). A primavera árabe alterou em grande medida a correlação de forças no mundo árabe – África do Norte e Ásia (Ásia Central e Oriente Médio) – a favor das forças conservadoras locais, bancadas, aliadas e associadas ao imperialismo norte-americano e sua concepção de mundo unipolar.
No Brasil, em junho de 2013, arrisco dizer que houve um primeiro balão de ensaio deste tipo de golpe aqui no Brasil. As manifestações que arrastaram milhões às ruas de várias cidades do país começaram com o movimento que lutava contra o aumento das passagens de ônibus, mas acabaram se transformando no movimento ‘Não vai ter copa!’, que, embora partisse de bandeiras legítimas do movimento popular, teve a presença da mão pesada da direita.
Em 19/02/14, o canal Russian Today (rt.com), em matéria intitulada ‘Como derrocar um Governo em cinco passos’, publicou a versão simplificada do roteiro proposto por Sharp a tais golpes suaves, que se desenvolvem dentro de uma sequência mais ou menos rígidas de etapas.
“Primeira etapa: Consistiria em levar a cabo ações para gerar e promover um clima de mal-estar. Entre tais ações destacam-se a realização de ‘denúncias de corrupção e a promoção de intrigas’.
Segunda etapa: Se começaria a desenvolver intensas campanhas em defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos acompanhadas de acusações de totalitarismo contra o Governo que detém o poder.
Terceira etapa: Esta fase se centraria na luta ativa por reivindicações políticas e sociais e na promoção de manifestações e protestos violentos, ameaçando as instituições.
Quarta etapa: Neste ponto se levariam a cabo operações de guerra psicológica e desestabilização do Governo, criando um clima de ‘ingovernabilidade’.
Quinta etapa: A fase final teria por objetivo forçar a renúncia do presidente mediante revoltas de ruas para controlar as instituições, enquanto se mantem a pressão nas ruas. Paralelamente se vai preparando o terreno para uma intervenção militar externa, enquanto se desenvolve uma guerra civil prolongada e se obtém o isolamento internacional do país”.
Lido o pequeno roteiro, pergunto: Alguma dúvida de que estamos diante de um golpe 'suave'? Preciso elencar os últimos dados para provar isso? Prefiro deixar essa tarefa para o leitor ou leitora.
Em um de seus livros, intitulado ‘Da ditadura à democracia’, Gene Sharp desenvolve o tema mais amiúde. Para quem lança um primeiro olhar, parece tratar-se de uma obra de cunho revolucionário. Ledo engano. Suas obras são uma espécie de manual direitista de guerrilha: só que travestido pelo discurso da não-violência (que toma emprestado do líder indiano, M. Gandhi).
Mas, vejamos o teor desta obra. Gene Sharp não pensa o mundo a partir de uma crítica ao capitalismo. A principal contradição aferida por ele não é a das classes sociais: Exploradores X Explorados; ricos X pobres; burguesia X proletariado. Ao invés disso, aponta para contradições do tipo: Líder X massa; Estado X todos; Ditadura X democracia; Ditador X democratas. O Estado aparece sempre como ditadura. (E o mercado? Seria a democracia?) Não parece se preocupar com perguntas essenciais tais como: O Estado em questão é uma ditadura para quem e é uma democracia para quem? Tal líder considerado ‘ditador’ governa para qual classe social? Quem banca o governo que ocupa o Estado? Em benefício de quem governa o 'ditador'?
A principal questão que Sharp coloca é: Como derrubar um governo ditatorial? (Não parece se preocupar se tal governo fora ou não eleito, se faz ou não pelas maiorias). Sua resposta à pergunta acima é sempre a mesma: derruba-se um governo ditatorial boicotando, minando, desrespeitando e desobedecendo o poder instituído. Um dos instrumentos fundamentais para isso? As Organizações Não Governamentais - ONG's. E que reine, através delas, a 'democracia'!
Mas, seu conceito de democracia está ancorado na concepção de democracia estadunidense - por ele considerada a única válida no mundo (fundada sobre o mito da excepcionalidade ianque). Suas raízes remontam ao franco-americano e positivista Alex de Tocqueville e em outros filósofos ditos fundadores, como Jefferson, Franklin, Paine e Madison. Tocqueville, por exemplo via a participação popular com desconfiança e considerava o individualismo (que diferenciava de egoísmo - sic!) uma tendência natural e positiva das democracias.
No Brasil, o marxista (ou ex-marxista) Carlos Nelson Coutinho defendeu uma concepção metafísica de democracia: 'a democracia como valor universal’, seguindo o rastro da velha discussão levantada por Hannah Arendt sobre totalitarismo. Arendt, sem o menor pudor, iguala nazismo com socialismo, ora esquecendo que são dois extremos, polos diametralmente opostos do fazer político, ora esquecendo que foi o socialismo (a URSS) e as frentes populares organizadas por comunistas de vários países que derrotaram o nazifacismo (que é um fenômeno integralmente capitalista, que se tornou possível a partir da fase imperialista que vigora ainda hoje).
Porém, como vivemos tempos midiáticos, nosso tempo é muito dado à fabricação massiva de consensos. Na verdade, vivemos cercados deles. O ‘Consenso de Washington’ instituiu o neoliberalismo como política para o mundo e a partir daí foram surgindo uma série de outros consensos ditos ‘científicos’ ou pós-modernos: como o ‘fim da história’ e outras baboseiras. Mas, será que a verdade se obtém por consenso? Ou se daria através de uma ação investigativa e metódica, do sujeito que quer conhecer, sobre o objeto do conhecimento? O consenso em ciência normalmente significa abrir mão do beneplácito da dúvida. O que, aliás, não pode dar certo: a ciência sem a dúvida não é ciência, é dogma - religião fundamentalista, é anticiência, é crença no mito, na narrativa, na mentira.
Mas, voltemos ao tema central. Outro fato é que o golpe suave, via de regra, está muito longe de ser suave. Pretendem com ele, reduzir o conceito de democracia, de participativa para representativa ou até ceifar este conceito. O golpe suave se dá pela união das forças antidemocráticas e de mercado (camuflados sob a forma de ONG's), num atentado às liberdades das grandes maiorias, e ainda por cima usando o próprio povo massificado pela imprensa partidariamente direitista - o PIG!
Mas, como dizia, não há nada de suave nos golpes suaves. Basta ver os desfechos sangrentos ocorridos na Líbia e na Síria, por exemplo. Na própria Venezuela, onde o golpe fascista foi barrado pela mobilização popular, a coisa evoluiu rapidamente para a ‘suavidade’ das ‘guarimbas’ (barricadas), que resultaram na morte de dezenas de pessoas e um inestimável prejuízo material. Algo similar aconteceu anos antes na Bolívia de Evo Morales e no Equador de Rafael Correa.
Portanto, muito cuidado e atenção! No Brasil o golpe está sendo organizado seguindo a mesma lógica. Basta ver as ONGs envolvidas: a Vem pra Rua é patrocinada pela cervejaria AMBEV. O MBL (Movimento Brasil Livre), mentor do Movimento Passe Livre (MPL), é bancado pela Students for Liberty (que é ligada à NED) dos Estados Unidos.
Por último, é bom lembrar, que um golpe suave é sempre articulado pelos meios de comunicação de massa. É só ver como a mídia está executando as cinco fases definidas acima. O objetivo? Manipular você, leva-lo para os protestos direitistas (travestidos de protestos sem partidos) e mudar o governo: tirando um governante (eleito) que é social democrata (e que até concilia e faz concessões ao neoliberalismo, mas não é o neoliberalismo) por um 100% neoliberal (que não negocia - ‘não tem arrego!’ - com o povo). Ou se preferir: trocar um governo mais ou menos corrupto, mas com visão de mundo multipolar (BRICS, UNASUL) por um totalmente corrupto (comprovadamente corrupto: composto por Cunha, Aécio, FHC, Serra - que querem vender o Pré-Sal e os nossos direitos -, entre outros) com visão unipolar (a dos EUA excepcionalistão). Contudo, entretanto, mas, porém, todavia: agora, em meio ao clima de rompimento da ordem democrática que já se estabeleceu: você decide! 1) O governo Dilma eleito por 54,5 milhões de votos?; ou, 2) O golpe suave das elites?

Renato Fialho Jr.