Artigo nº 015 - teórico

A incrível atualidade do Manifesto do Partido Comunista:
Pode o capital se livrar do trabalho? (1)


05/05/14 - No 'Manifesto do Partido Comunista', de 1848, Marx e Engels elucidam que 'A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais'.

(Comentário: Sem dúvida. E isso acontece de uma forma ainda mais veloz hoje em dia: Século XXI. Basta ver as revoluções geradas nas relações de produção e nas relações sociais oriundas destas necessárias e incessantes revoluções dos instrumentos de produção: o supercomputador, que tende a substituir o cérebro, os robôs substituindo praticamente as mãos e as velhas ferramentas, a biogenética, alterando as condições de vida das várias espécies, substituindo ou questionando a existência de Deus. Isto sem falar na integração de todos esses instrumentos em diversos ramos de produção. As relações sociais estão a cada dia mais intermediadas pela internet e dependente de acessórios como computadores pessoais, celulares, laptops, tabletes, Smart-TVs etc. Com isso as relações sociais vão se tornando mais intensas quantitativamente e mais impessoais qualitativamente falando).

Marx e Engels, na mesma obra, mostraram o caráter efêmero das relações sociais que emergem resultante desta condição revolucionária própria da sociedade burguesa: 'Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas'.

(Comentário: Vai se tornando habitual a instabilidade de todo o tipo - econômico, político, social - e seus golpes nas condições da existência humana. Já não há nada sagrado: as artes, os ofícios, as empresas, o dinheiro, a política, as nações, os impérios, a moral, as famílias, os costumes e a própria religião viraram ou estão a virar fumaça na imensa caldeira do capital).

Os dois autores percebem a globalização como filha imediata deste processo: 'Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda a parte, criar vínculos em toda a parte'.

(Comentário: E fala-se hoje em globalização como se fosse uma novidade. A nova ordem mundial é uma necessidade perene da burguesia! Enquanto ela existir, é óbvio!).

E acrescentam: 'Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países'. E vendo o presente, Marx e Engels imaginam o futuro: 'Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente'.

(Comentário: É risível assistir pela TV alguns membros da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - falando em interesses da indústria brasileira. Mesmo admitindo a sua existência, elas estão totalmente na condição de consumidores de insumos fabricados ou extraídos pelas megacorporações amalgamadas ao grande capital financeiro).

Marx e Engels seguem então: 'Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos'.

(Comentário: Tudo vira commodities e países como China e EUA dependem cada vez mais do fornecimento de matérias-primas provenientes da América Latina, África, Ásia e Leste Europeu.)

Logo: 'Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal'.

(Comentário: Alguma dúvida a respeito disso? A interdependência é universal tanto no que tange à produção como no que tange ao consumo. O intercâmbio se amplia independentemente da vontade de cada uma das pessoas ou países. Mas há um fato curioso quanto às artes: A própria lei de propriedade intelectual reconhece como de domínio público as obras de autores mortos há algumas dezenas de anos. Mas, por outro lado, existe um caminho inverso: que é a tentativa do grande capital de se assenhorear de tudo o que é público: uma espécie de privatização da cultura dos diferentes povos).

E seguem: 'A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem'.

(Comentário: E quem diria que a China, antes vítima da globalização e do livre-mercado, tem em seus preços baratos a mais pesada artilharia da atualidade a liquidar os velhos e combalidos mercados europeu e norte-americano. Este talvez seja o preço a ser pago pelo capital em seu afã de ver destruído o bloco socialista! O capitalismo entrou na China, o Partido Comunista Chinês segue à frente do processo e a China se expande pelo mundo a comprar bancos, indústrias e comércios dos países ainda há pouco conhecidos como de Primeiro Mundo. Os EUA achavam que a China, mesmo vendo a desintegração do dólar, ficaria com ele nas mãos. Quando esta crise estourar mais forte, e não estamos assim tão longe disso, quem mais tiver esta batata-quente na mão mais vai se queimar e mais tende a se afundar com ele. E assim, remetendo ao texto, não adianta chamar os chineses de 'bárbaros', pois é a esse processo competitivo e destrutivo que a burguesia ocidental sempre chamou de 'civilização'. A China agora é a imagem e semelhança da civilização burguesa típica!).

Marx e Engels: 'A burguesia submeteu o campo à dominação da cidade. Criou cidades enormes, aumentou num grau elevado o número da população urbana face à rural, e deste modo arrancou uma parte significativa da população à idiotia [Idiotismus] da vida rural. Assim como tornou dependente o campo da cidade, [tornou dependentes] os países bárbaros e semibárbaros dos civilizados, os povos agrícolas dos povos burgueses, o Oriente do Ocidente'.

(Comentário: Este parágrafo é excepcional. Parece escrito para hoje. O aumento da população urbana frente à população rural é uma marca do capitalismo, que tem seu centro econômico e político nas gigantescas cidades. Países rurais como a China e a Índia vão se tornando países urbanos num piscar de olhos. E até mesmo as regiões rurais mundo afora vão adquirindo características urbanas, na medida em que a população urbana, saturada de viver na 'selva de pedra' acorre para elas nos feriado, mas com o desejo de ver reproduzidas suas condições de vida urbanas nestas áreas: levam, em seus carros confortáveis, seus equipamentos de consumo favoritos (TV a cabo, laptop com banda larga, pen drive, jogos eletrônicos, comidas plásticas etc. A idiotia do campo - devido ao analfabetismo generalizado e ao isolamento populacional - cedem lugar a uma idiotia fabricada pela sociedade de controle (ou de massa) em que vivemos. Quanto à dependência do campo à cidade e a subordinação deste por aquela, dá-se a olhos vistos já que o agronegócio tornou artificiais os processos naturais de reprodução da vida. Por último, é notória a voracidade com que o Ocidente tenta impor, e agora via a guerra na Síria e Ucrânia, seu domínio sobre o Oriente - uma manifestação desesperada de um modelo moribundo).

(continua)

Renato Fialho Jr.