Artigo nº 024 - teórico

O mundo precisa muito de uma vacina antifa!


29/03/2020 - Segundo o site ‘Dicionário Etimológico’, é possível conferi-lo em  https://www.dicionarioetimologico.com.br/fascismo-e-faxina/, a origem da palavra fascismo é a mesma da palavra faxina:

“...Ambas derivam da mesma palavra latina: fascis, que significa feixe. Na Roma antiga, o símbolo de autoridade e poder dos governantes era um feixe de varas amarradas. Só que feixe lembra também a imagem da vassoura; por isso, essa palavra foi associada ao ato de limpar, de fazer uma "faxina". No século 20, o ditador Mussolini, com sua mania de querer restaurar a glória dos antigos imperadores, escolheu o símbolo romano do feixe para representar seu sistema político, que, por isso, recebeu o nome de fascismo”.

Mas, segundo Mauro Luís Iasi, o essencial do fenômeno está no “caráter de classe do projeto fascista, sua intrínseca relação com a fase monopolista e imperialista e sua inseparável vinculação com o irracionalismo pragmático”.

Sem a menor sombra de dúvida, como é possível perceber nas palavras de Iasi, o fascismo é um projeto de caráter burguês-capitalista e de coloração ultradireitista. Sua opção apriorística pela violência mais vil e desesperada fica visível em sua obsessão pela manutenção da ordem e dos privilégios burgueses.

Por outro lado, trata-se do desejo de manter no chão, de menosprezar e pisotear qualquer tipo de organização dos de baixo. Daí sempre encarar o pobre como "bandido", "inútil", "vagabundo por natureza", "incapaz". Daí ser contrário aos movimentos operários e populares. O fascismo precisa extinguir os sindicatos ou estabelecer o corporativismo sindical, que busca tornar o movimento operário uma parte do corpo estatal fascista (comandado pela elite que financia o Estado), obediente a uma elite dirigente que é indiferente ao humanismo. Daí a necessidade dessa burguesia e seu sistema putrefato de tomar o Estado para seus fins belicistas, daí a vontade de poder que abocanha o pouco de democracia que ainda possa restar em um país (ou em um continente), para a construção de seu Estado fascista autoritário: e aí está o seu caráter aristocrático, militarista, belicista e ultraconservador!

Como o fascismo pretende se impor pela força, desdenha, menospreza e ataca praticamente toda forma de pensamento racional. A única razão permitida por ele é a que se coaduna com a sua ordem violenta: a razão instrumental. Na razão instrumental, a ciência está confinada aos desígnios subjetivos de um quadro teórico pré-moldado, confinada e controlada por um princípio de autoridade, ou seja, submetida a uma fé, a um mito e a um desejo incontido de obediência. Essa filosofia de base escolástica é que fornece o caráter irracionalista do fascismo e sua simpatia doutrinária pelo militarismo e pela religião que fanatiza, subjuga e mata. De fato, a razão que defende não admite o pensamento crítico e está bem distante do compromisso cartesiano com a verdade. Sua razão é uma falsa razão, pois pretende controlar a ciência e a universidade. É de fato uma irracionalidade, melhor dizendo! Pois coloca o sentimento e a emoção (idolatria, fé, paixão, ódio, tristeza, ameaça, dor e medo) acima da razão!

O fascismo é ultranacionalista por pragmatismo e por puro casuísmo, pois este é um dos ingredientes da receita de como fazer a massa (popular): para unir os pobres ao projeto dos ricos há que apelar para o espírito de nação, de povo, de origem. Hitler dizia, “Alemanha acima de todos!”. A lógica é transformar a população em gado, em massa, orientada pela propaganda que, segundo Goebbels (empresário e ministro de Hitler), tem por lema “repetir uma mentira mil vezes até que ela se transforme em uma verdade!”. Jornais, rádios, igrejas, escola, filosofia, arte, ciência e família: todas as instituições deveriam se orientar pelo mesmo sentimento e pela direção apontada pelo líder (o führer). E não por acaso o empresariado brasileiro quer a política de empreendedorismo como parte da educação: a caça de "talentos", o incentivo ao "líder" chamado a uma concorrência (sem esclarecer contudo que já sai da competição com 99% de chance de perder).

O fascismo, como tem demonstrado a história, é um subproduto das crises capitalistas e surge, se fortalece ou ressurge toda a vez que uma grande depressão se avizinha ou está em vias de se consubstanciar. Não é a única forma de a burguesia se relacionar com a crise, mas funciona como uma espécie de tentação ou ameaça medonha a inibir uma possível revolução proletária, que malgrado distante ela pressente se avizinhar. O fascismo, para se impor enquanto regime político, precisa enfraquecer e solapar o que resta de democracia: movimentos populares autônomos, artistas independentes e partidos de esquerda são seus principais alvos. Daí o princípio antidemocrata, antipopular e anticomunista que também lhe caracteriza.

O conservadorismo se ajusta ao princípio da autoridade. Comte, Durkheim ou Le Bon (este último da teoria das elites) partem do pressuposto (equivocado) de que existe uma superioridade natural e hierárquica entre brancos e negros, homens e mulheres, heterossexuais e LGBT’s, centro e periferia, ricos e pobres, com sinal positivo para os primeiros, que devem mandar, contra os segundos, que devem obedecer.

Partindo dessa perspectiva, que tem por base o preconceito, a discriminação e a segregação, é possível trabalhar com vários conceitos, como o de necropolítica e o de necropoder do camaronês Achille Mbembe. Ou o conceito de biopolítica, de Michel Foucault. Ou ainda o conceito de Estado suicidário, desenvolvido pelo filósofo brasileiro Vladimir Safatle. É que o fascismo, por tudo o que já vimos, supõe a eugenia (limpeza étnica, sexual ou racial do corpo social) e a solução final. A ideia de vassoura, de faxina, está presente por exemplo em operações judiciais como a "operação mãos limpas", na Itália, e a "operação Lava Jato", no Brasil, que tinham por pretexto varrer uma suposta corrupção no aparato estatal, mas que na verdade varreu (sem provas substanciais) setores de centro-esquerda (a social-democracia) do poder político.

Mas vejamos agora o caso do coronavírus. A reação do governo do Inominável é a de duvidar da pandemia. Como Hitler fez, o Inominável precisa de fábulas, fake news e teorias da conspiração assim como o gado precisa de grama e capim. Daí demorar a tomar medidas contra o vírus, afinal para o "super-homem" o covid-19 não passa de “uma gripezinha!” e esse negócio de confinamento é ‘histeria' da imprensa e da OMS! A elite que banca o Coiso pediu e ele não hesitou em convidar a população para voltar à vida normal, chegando mesmo a convocar para uma carreata (com os mais luxuosos carros), como a do dia 27/03/20, conclamando o povo a retomar a lida (aglomerar-se em busão, metrô ou trem) e fazer girar, como costuma fazer, a roda da economia capitalista. Sua preferência pelo lucro é uma escolha pela morte, solução final, desprezo pela vida.

Discute-se se o inominável é louco ou fascista. Vimos que o irracionalismo não obedece a razão e, portanto, não se propõe seguir nenhum tipo de regra constitucional pré-definida, mas sim romper com o Estado democrático de Direito. Para se tornar o fascismo cotidiano, é preciso sair das amarras de um poder legal-racional (como o Estado burocrático moderno), no dizer do sociólogo liberal Max Weber, para se dirigir a um poder de tipo carismático, de estilo irracional e pessoal. A própria lógica fascista, como se pode observar, é um convite a ilegalidade criminosa, a atitude facínora. Da razão, só conhece o tecnicismo de controle e de manipulação panóptica, de fundo militarista e beato. Basta ver a atuação dos quatro cavaleiros do apocalipse no poder legislativo! Ao longo de decênios nunca se dedicaram a outra coisa a não ser vomitar ódio e desaforos irracionais e pragmáticos. Se você ainda tem dúvida da atitude criminosa que inspira as hordas fascistas que acompanham o presidente, basta perceber como agem em desprezo ao ser humano alguns de seus líderes, como os pastores do ‘gado’ em prol do próprio ‘bolso’, meras religiões convertidas em comodities.

Diante da pandemia do covid-19 vai ficando dia-a-dia mais nítido o quão cruel é o neoliberalismo capitalista e como se enamora dos princípios desumanos e violentos do fascismo. Como diria a teórica canadense Naomi Klein, em seu livro “A Doutrina do Choque: Ascensão do capitalismo de desastre”, o neoliberalismo, política elaborada e pensada por Milton Friedman, aguarda um desastre social (guerras, epidemias, pandemias) ou natural (enchentes, tsunamis e terremotos) para promover profundas reformas econômicas e retiradas de direitos sociais que visam favorecer as grandes corporações. Vejam a proposta da EaD (Educação à Distância) que se tenta impor agora, em várias partes do mundo, aproveitando o confinamento sanitário que se alastra pelo globo. Mas, no último vídeo de Klein (vide ao final), feito exclusivamente para o momento da pandemia, ela cita o próprio Friedman, que dizia: “Apenas uma crise – real ou percebida como real – produz mudança de fato. Quando essa crise ocorre, as ações dependem de ideias que estão disponíveis no momento”.

E Naomi Klein termina o vídeo com uma mensagem esperançosa: “Acredito que essa seja nossa principal função: desenvolver alternativas às políticas vigentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente inevitável”.

Termino dizendo que o mundo precisa de uma vacina, não só contra o coronavírus, mas contra o fascismo. Uma vacina antifa que precisa ser construída a partir do conhecimento histórico de que o fascismo é um fenômeno indubitavelmente burguês. E, uma vez vacinado contra esse flagelo, as alternativas para um outro modelo de sociedade pós-capitalista fica aberto a uma via de fato racional e inteligente, sensível e fraterna: o apontar para uma soceidade onde o lucro egoísta, o desapreço pela humanidade e a propriedade PRIVADA dos meios de produção da vida não mais existam! E onde os aspectos formadores da sociedade sejam os valores solidários, o humanismo e a propriedade COLETIVA dos meios de produção!

Todas as vezes que o fascismo tentou levantar a cabeça, foi derrotado pelas forças progressistas. Afinal, "a história é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue", como escreveu o cantor cubano Pablo Milanés. E como diria o compositor e cantor brasileiro Chico César, "Fogo nos fascistas! Fogo, já!"

DICAS DE VÍDEOS COMPLEMENTARES:
Fonte: The Intercept Brasil
Vídeo: Fascismo, crise e pandemia: Uma entrevista com Jason Stanley
https://youtu.be/ahaHBwbkp24?list=TLPQMjgwMzIwMjBTE7ZRZ_-n8Q

Vídeo: O capitalismo do coronavírus
https://youtu.be/RAaDSgAd_1k

Vídeo: Coronavírus nas Igrejas Evangélicas
https://youtu.be/oHOwUVWRBBw

Renato Fialho Jr.